Vazio, vácuo, vão, dentro íntimo oco âmago buraco. Antro. Clausura claustrofobia. Fenda ventre gruta caverna. Vagina Vaga lacuna. Clarão. Espaço confinado entre limite e extremidade. Cerne. Não estar nem ser, dissipar-se em si. Rotura recesso. Silêncio. Eternidade. Hiato ponto pausa pouso interstício. Nada. Tudo céu tudo janela tudo porta, fresta greta brecha. Aberto por onde entrar passar através sair sumir desaparecer. Trevas. Cegueira. Solidão. Deserto ermo. Carência falta ausência pobreza. Branco imaculado limpo puro. Sem marca, sem destino. Destituído desterrado despaisado. Depois, presença prenhe: Os tempos mostram, marcada na carne, a dor que fala. Inútil não ser o que se é, no sentido de estar.
Inútil lutar para ser outro, inútil lançar pontes de palavras que chegam estilhaçadas ao outro, por que ele as filtra, penera, mesmo quando diz ouvi, mesmo quando diz entendi... A linguagem é o tempo todo tradução, inútil querer ser compreendido... Antes ser abraçado, enlaçado, devorado, antes talvez sejam bons a solidão, o silêncio e ainda a companhia dos bichos, pois só querem o calor de outro corpo junto ao seu. Esta, a linguagem outra não analítica, não simplificadora, não explicativa.
Isso tudo não quer dizer destino, a cargo de Deuses que foram para uma festa e não voltaram, isso tudo diz respeito a diálogo, a encontro, a nomear coisas, compartilhar assuntos...
* A partir de Simone Weil em “A Gravidade e a Graça”, diria que foi preciso uma representação do mundo em que houvesse vazio, a fim de que o mundo tivesse necessidade de Deus.
Novembro 2001
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