outubro 29, 2008

Duas ou três coisas que eu sei sobre mim

Inspirada no cineasta iraniano Abbas Kiarostami (finalmente me afasto da linha do diário de Bridget Jones 1). E também pensando na frase de Gadamer que “não conhecemos a nós mesmos”, minhas últimas experiências me comprovam isso relativamente a mim, evidentemente. Fiz uma listinha provisória (claro) de duas ou três coisas mais ou menos, que eu sei sobre mim:
Eu sou mesmo desmedida, devo adquirir um indicador de limites urgente;

Sou muito teimosa, já me dei mal por isso, e não aprendo;

Tenho dificuldades de aceitar o movimento próprio da vida, mas não de mudar;

E tem outra coisa, quando amo, dou minha alma toda, e no fim, preciso de alguns anos pra me recuperar e para deixar sair (apego?). Tudo é muito lento.
"ando com balde de água embaixo de cada olho, preciso ir bem devagar, senão derrama" Viviane Mosé

outubro 25, 2008

Oração


Meu Deus me dê vergonha na cara. Não por orgulho que é oco. Não pela vaidade que é inútil. Nem pelo medo do vexame, pois este foi inevitável.
Eu já levei todos os foras, já tomei todos os gelos, que sou capaz de assimilar. Mandaram-me ser feliz bem longe, cá onde estou. A recorrente mão estendida no ar , eu sei que é um sintoma que se compraz na rejeição. Isso me obscurece a vista e enfeia o mundo, me mata o desejo, aniquila minhas ilusões, que para mim equivalem à fé. Cada sensação desta condição deve ser mais um pecado computado à minha conta (bem alta por sinal).
Pois se sou eu o erro e a errada, Deus, eu não te peço muito, devolva-me a lucidez ou me premie com o esquecimento. Quero fazer jus a ser sua criatura, Quero de novo a volúpia dos dias de sol.

Se se pode reconhecer a essência de todos os seres no céu e na terra pelas atrações que exercem, o que dão a saber as rejeições ?

outubro 17, 2008

Historinha infantil

Á Socrates, velho esperto, pois nunca lhe faltaram amigos e amantes

Era uma menina de cinco ou seis anos, na época mais Electra de sua vida, sentia saudades do pai o dia inteiro enquanto ele trabalhava. Num desses dias quando o pai chegou tarde da noite, com seu coraçãozinho batendo de alegria, ela correu e abraçou-lhe as pernas, altura ao seu alcance. Talvez o pai tenha tido um dia difícil no trabalho, se aborrecido ou apenas estivesse com dor no fígado, o fato é que ele a empurrou com força como quem dissesse: “sai menina enjoada”. Isso marca como um amor não correspondido.
Um dos seus amores era vazio como um ator de fotonovela “Sétimo Céu”, mas tinha os olhos azuis, mais tarde, ela chegou a conclusão de que tinha amado um personagem, quem não fez isso? Talvez seja sempre isso mesmo que acontece quando se ama, dada a incomunicabilidade e a intradutibilidade entre gestos, palavras, atos e coisas dos humanos.
Um dos seus amores era um cara que dizia amar a verdade. É certo que ele sempre foi extremamente sincero. Mas ele colocava um espelho na frente das palavras que ela dizia, e as palavras, ou mais precisamente, seus sentidos, retornavam vazios, inúteis e invertidos muitas vezes retorcidos ... Tal como Sócrates que condenava a tragédia e defendia a verdade, que condenava os sofistas e fazia a mesma operação, esvaziando o mito, usando-o para seu benefício próprio, identificando o desejo como a falta, fazendo de Eros um simples amigo e da beleza numa idéia... Contudo isso, ela amou este homem, não um personagem. Enfim, esta história mais pareceu a história de dois cometas desgovernados que se trombaram por acaso no universo e por um tempo percorreram perfilados no espaço. Então cada qual seguiu seguiu seu caminho na imensidão, como era de se esperar.

Cada um desses encontros ou desencontros é uma estória da vida, as quais damos os "nomes que quisermos", mas não é uma choradeira sobre ser infeliz, sobre não ser amado. Afinal, tem-se caber no sonho de alguém. Isso não é fácil, mesmo porque requer competência e habilidade especiais ...

A historinha é uma resposta aos encadeamentos, às repetições que não se entende muito bem ou nadinha mesmo por que acontecem.

outubro 16, 2008

Só Deixo Meu Coração Na Mão de Quem Pode

Só Deixo Meu Coração Na Mão de Quem Pode
Katia B
Trilha sonora do filme “Não por acaso”
Vi este filme. A trilha sonora é muito legal, tem Nazi e Fausto Fawcett, esta letra expressa um desejo de ser tão boa quanto...

Só deixo meu coração na mão de quem pode
Fazer da minha alma suporte para uma vida insinuante
Insinuante anti tudo que não possa ser
Bossa Nova Hard Core
Bossa Nova Nota Dez
Quero dizer, eu to pra tudo nesse mundo
Então, só vou deixar meu coração, a alma do meu corpo, na mão de quem pode
Na mão de quem pode e absorve
Tanto no céu que no inferno
Inspiração de Mutação
Da vagabunda intenção
De se jogar na dança absoluta da matança do que é tédio, conformismo, aceitação
E eu fico aqui vou te levando nessa dança
Sobre o mundo Pode tudo do amor Pode tudo do amor
Porque eu não quero teu ciúme que é o cúmulo
Ciúme é o acúmulo de dúvida, incerteza de si mesmo, projetado
Assim jogado como lama anti-erótica na cara do desejo mais intenso de ficar com a pessoa

Eu não to a toa
Eu sou muito boa
Eu sou muito boa pra vida

Eu sou a vida oferecida como dança
E eu não quero “te dar gelo”
Diabos que o carregue
Vê se aprende, se desprende
Vem pra mim que sou a esfinge do amor
Te sussurrando Decifra-me, decifra-me
Refrão
Só deixo minha alma, só deixo o coração
Só deixo minha alma na mão de quem pode
– voz masculina –vê se aprende, se desprende——————-
Só deixo minha alma, só deixo meu coração
Na mão de quem ama solto!

outubro 10, 2008

“My Blueberry Nights”

Assisti ao filme “My Blueberry Nights” , do diretor chinês Wong Kar-wai. O filme não apenas é um dengo, é delicado, com passagens dramáticas, claro. Assiti muitas, muitas vezes. Norah Jones e Jude Law, interpretam Elizabeth e Jeremy, se conhecem no café dele quando ela rompe com o namorado que arrumou outra. No seu primeiro diálogo Jeremy diz:

"Em minhas observações, as vezes não há explicação e em outras é melhor não saber".

Ele continua: "Veja o caso da torta de Blueberry; as tortas de cheessecake e a de chocolate toda noite acabam enquanto a de blueberry fica intocada, não há problema com ela, só que ninguém a escolheu".

“My Blueberry Nights” poderia ser chamado de “Choose Me” diz uma crítica que eu li, que ainda comenta uma certa relação visual com o pintor Edward Hooper, no Brasil, o filme foi nomeado de "O beijo roubado" este aí de baixo.
Ela decide tomar o caminho mais longo antes de recomeçar. Passa um tempo sendo garçonete naqueles bares típicos americanos. Contudo, há um recomeço sim.