agosto 30, 2009

Gatos atropelados

De vez em quando, penso que eu venha agradecer aos homens que passaram por mim atropelando, "me deixando de lado". Os tais que me trataram como um vento que passou (da música mulher sem razão): o que não me mata me deixa mais forte dizem por ai. Sei reconhecer um gato atropelado a distância e logo penso em levar para casa. Inútil, ele fica bom e foge. São quase três anos de solidão nos entremeios.
Reconheço tortos e aleijados de alma por que eu mesma convalesço disso. Meu couro está curtido, vejo tudo claramente, muito embora, tenho que admitir que seja a solidão que traga esta clareza. Quando aparecer alguém, irei continuar assim?
Meu couro está curtido, mas minhas pernas dobram-se ao peso da dor. Sinto que vou quebrar ao meio, ainda a mesma dor. De que adianta ver mais do que outros se minhas pernas não alcançam o horizonte? Se quando faz muito frio, eu tenha que conversar com felinos que nunca tomam banho?
Esses gatos me aquecem. Aprendi com eles o melhor modo de ficar junto, só que os companheiros humanos não perceberam. Nem todos estão preparados para o afeto, nem eu.

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