Comecei este ano aplicando procedimentos de planejamento
estratégico à minha vida, e cheguei a três focos: organização, parcerias e ação.
Escrevi na parede, mas fiquei um pouco constrangida com as
palavras “tão planejamento estratégico”, e tentei sobreescrever significados,
explicações. Uma frase dessas é: “eu sou cheio de querer” (dos Racionais MC). Outras
palavras: diligência, “cuide-se bem”, disposição, movimento.
Eu tentei realizar meus focos? É minha pergunta de fim de
ano.
Passei o ano brigando para fugir de compromissos e trabalhos
que me delegavam muito além do que meu patrão já me delega – muitas pessoas
esquecem, eu já tenho patrão – passei o ano escapando de projetos comigo por
parte de outros que não eram meus projetos. Ainda fiz coisas para outros além
de minhas forças. Isso cansou demasiadamente.
Viajei pouco, não sai quase nada, não fui ao cinema, não
passei, encontrei pouco com amigos, meus poucos amigos, escrevi pouco, estudei
muito, li bastante, mais do que no ano passado. Reeencontrei velhos livros: os
beatnicks, eu me desencantei de Kerouac um pouco –só um pouco, me encantei com
Ginsberg. Ouvi mais do que antes, ainda falei mais do que devia, encontrei
preciosos momentos de silêncio, não meditei. Encontrei sim novos parceiros
(exigentes). Briguei novamente por quem não merecia nessa edição de eleição,
mas definitivamente briguei contra inimigos meus. No fim me vi com alguma
identidade que já estava aqui: é nela que habito, nela é meu lugar, carrego
comigo para onde vou, diria a mulher canhota. Enfim me vi numa identidade que
quase gosto, quase. Enfim ela quase me define. Quase quase quase..
A nova pergunta é: dá pra deixar de ser um pássaro depenado,
e cantar publicamente sem levar bicada? Se me deixam cantar! Tais metáforas não
vou explicar, tem relação com uma fala de uma personagem, a personagem objeto do filme canadense chamado “o segredo do quarto
branco”. São metáforas muito concretas, muito remotas, mais antigas do que o
filme: Bird, “voar é com os pássaros”...
Um texto já encontrado, sem ter se dado conta: a
desorganização de G. H (personagem de Clarisse Lispector), queria não temer nem
ordem nem caos, temo mais a ordem: Deus, não temo a punição, temo a própria ordem divina.
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