"A anomia é um sentimento de desenraizamento, de estar à deriva. Explicando a anomia nesses termos, Durkheim procurava investigar mais fundo as consequências da exclusão; é possível que as pessoas internalizem a exclusão de tal maneira que passam a sentir que de fato não merecem muito crédito, que ela de certa forma é justificada. A repercussão íntima torna-se evidente nos indivíduos em ascensão que se sentem uma farsa nas novas circunstâncias; na literatura americana, o Jay Gatsby do romance de Fitzgerald sofre desse tipo de anomia. Mas Durkheim considerava que esse tipo de desenraizamento internalizado era muito mais disseminado. Você foi julgado pela cultura das instituições, e realmente não se adapta. O suicídio, estado de tão extremo desespero, abriu diante de Durkheim uma janela para as consequências mais comuns do distanciamento intimamente absorvido pelo indivíduo na forma da insegurança."
Sennett, Richard. Juntos: Os rituais, os prazeres e a política da cooperação (p. 326). Record. Edição do Kindle.
O comprometimento pode ser testado de maneira direta: até que ponto você se dispõe a se sacrificar por ele? Na escala da troca social apresentada no capítulo 2, o altruísmo representa o tipo mais forte de comprometimento; Joana D’Arc subindo à fogueira por suas convicções, o soldado comum morrendo em batalha para proteger os companheiros. No outro extremo da escala, entre os predadores máximos, sejam jacarés ou banqueiros, o autossacrifício não aparece, e assim não surge oportunidade para o teste. Nas zonas humanas intermediárias, os sacrifícios acarretados pelo comprometimento são mais baralhados. A troca ganhar-ganhar em um acerto de negócios requer que todas as partes abram mão de determinados interesses a bem de um acordo benéfico para todos; uma coalizão política exige calibragem semelhante. A troca diferenciada, o encontro esclarecedor, não envolve autossacrifício, mas tampouco implica levar a melhor sobre outra pessoa, exigindo que abra mão de algo.
Sennett, Richard. Juntos: Os rituais, os prazeres e a política da cooperação (p. 328). Record. Edição do Kindle.
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