maio 28, 2010

o tipo de aparição em que acredito

As lembranças que tenho do meu avô são afins a algumas cenas de filmes de Fellini. A mais linda se passa em Vale Encantado, no Município de Vila Velha- ES, quando este era realmente encantado.
Meu avô me levou em seu FNM ao lindo areal, extenso. Na minha lembrança o lugar é uma borda entre o areal e o inicio de um loteamento muito desabitado. As casas salpicadas, muito distantes entre si. Uma visão: numa rua inusitada no meio do areal, sem uma construção sequer, mais inusitada ainda, surge uma trupe de circo.
Um circo muito mambembe, um palhaço maltrapilho, um homem de perna de pau, mais uma ou duas pessoas vestidas com roupas de circo, acompanhadas por um caminhão muito antigo, um homem com megafone anunciava a redundante frase “hoje tem marmelada, tem sim senhor. hoje tem goiabada, tem sim senhor. E o palhaço o que é? É ladrão de mulher!!!!”.
Um filme de Fellini se aproxima e figurativiza o meu encantamento, meu deslumbramento, de menina de 7 ou 8 anos com aquela visão. O encontro daquela trupe com a imagem daquele areal branco neve, a areia que o vento levantava em grãos muito finos, superpondo a paisagem azul e rosa desse pontilhismo branco.O mesmo encantamento que causa uma cena de Julieta dos Espíritos. A cena da chegada da sua vizinha e convidados à praia. O comentário de Rafaello enuncia: “Isso sim que é uma aparição. É o tipo de aparição em que acredito ...”

Há uma música, que Cássia Eller canta, que me reevoca esse dia em Vale Encantado, a música “Maluca”:
“(...) Foi minha irmã quem me chamou pra ver. Era um caminhão, era um caminhão Carregado de botão de rosas. Eu fiquei maluca. Por flor tenho loucura, eu fiquei maluca. Saí . Quando voltei molhada Com mais de dúzias de botão (...)”.

Meu avô me proporcionou isso... as melhores lembranças que tenho da minha infância.