dezembro 18, 2014

Longe

Quem sou eu: um conjunto de obstinações, compulsões, uma objetividade extremada, para mim o alvo é muito claro, o que almejo é muito claro. Ninguém fez isso por mim, eu mesma fiz. E eu quero mesmo isso (não vou dizer ainda o que). Mas são muitos os obstáculos à frente, que eu mesma coloco, concordo, porém, com a ajuda de alguns sabotadores amigos e inimigos. Há um texto de Charles Bukowski: Toda a minha vida tem sido uma questão de lutar por uma simples hora para fazer o que eu quero fazer. Tem sempre alguma coisa que atrapalha a minha chegada a mim mesmo.”
Sou também uma pessoa que coloca o amor no lugar errado, talvez, eu “não tenha amado” quase ninguém. Nossa! me perdi!.

Quem sou eu? O que venho fazendo? Como é meu modo de agir? Como me movo entre os vivos? Como faço para me tornar o que tenho sido? O que eu quero de verdade?

Escrever é diferente de pensar, pensar tem sido bom. Encarar-me não é tão bom. 
Está uma bagunça comigo, desorganizado mesmo. Escrever coloca ordem nas coisas projetivamente, o que é bom, mas é meio ficção, demasiado projeto, demasiado desejo, preciso ir à carne crua da minha vida. Por isso, apenas pensar tem sido melhor...


dezembro 17, 2014

Muzak - Jovens Ateus

Drop dead 2014_1



Comecei este ano aplicando procedimentos de planejamento estratégico à minha vida, e cheguei a três focos: organização, parcerias e ação.
Escrevi na parede, mas fiquei um pouco constrangida com as palavras “tão planejamento estratégico”, e tentei sobreescrever significados, explicações. Uma frase dessas é: “eu sou cheio de querer” (dos Racionais MC). Outras palavras: diligência, “cuide-se bem”, disposição, movimento.
Eu tentei realizar meus focos? É minha pergunta de fim de ano.
Passei o ano brigando para fugir de compromissos e trabalhos que me delegavam muito além do que meu patrão já me delega – muitas pessoas esquecem, eu já tenho patrão – passei o ano escapando de projetos comigo por parte de outros que não eram meus projetos. Ainda fiz coisas para outros além de minhas forças. Isso cansou demasiadamente.
Viajei pouco, não sai quase nada, não fui ao cinema, não passei, encontrei pouco com amigos, meus poucos amigos, escrevi pouco, estudei muito, li bastante, mais do que no ano passado. Reeencontrei velhos livros: os beatnicks, eu me desencantei de Kerouac um pouco –só um pouco, me encantei com Ginsberg. Ouvi mais do que antes, ainda falei mais do que devia, encontrei preciosos momentos de silêncio, não meditei. Encontrei sim novos parceiros (exigentes). Briguei novamente por quem não merecia nessa edição de eleição, mas definitivamente briguei contra inimigos meus. No fim me vi com alguma identidade que já estava aqui: é nela que habito, nela é meu lugar, carrego comigo para onde vou, diria a mulher canhota. Enfim me vi numa identidade que quase gosto, quase. Enfim ela quase me define. Quase quase quase..
A nova pergunta é: dá pra deixar de ser um pássaro depenado, e cantar publicamente sem levar bicada? Se me deixam cantar! Tais metáforas não vou explicar, tem relação com uma fala de uma personagem, a personagem objeto do filme canadense chamado “o segredo do quarto branco”. São metáforas muito concretas, muito remotas, mais antigas do que o filme: Bird, “voar é com os pássaros”...
Um texto já encontrado, sem ter se dado conta: a desorganização de G. H (personagem de Clarisse Lispector), queria não temer nem ordem nem caos, temo mais a ordem: Deus, não temo a punição, temo a própria ordem divina.