dezembro 17, 2008

"I share an empty balloon with the shadows..."

"I share an empty balloon with the shadowsget nastier by the picture-frame" do poema verses from an empty nest de Nick J. Swarth in Naked city poems


dezembro 03, 2008

Amor "eu não te conheço"

2 days in Paris, filme de Julie Delpy, cena final
Jack diz a Marion “Eu não te conheço”. Antes disso Marion entra em sua casa em Paris com seu gato no colo. Eles ficaram distantes todo o dia por causa de uma briga (ela faz uma cena histérica num bar com um ex-namorado, ele tem ciúmes e está deslocado - Jack fica meio a parte da língua francesa, dos ex-namorados dela, etc).
Marion narra:
“Para resumir a história. Não é fácil estar num relacionamento. Especialmente conhecer verdadeiramente a outra pessoa. Jack percebeu que depois de 2 anos de relacionamento não me conhecia, nem eu o conhecia”.
Jack e Marion por minutos confessam seus temores e dificuldades na relação e Marion continua narrando:
“Então ele disse algo que me magoou. Seu tom mudou drasticamente. Eu não entendi muito bem o que ele quis dizer, mas supus que ele quis dizer que não me amava mais e que queria terminar tudo.”
“Sempre me fascinou como as pessoas passam do amor incondicional a nada, nada... doeu muito. Sempre que percebo que alguém vai me deixar, tenho o impulso de terminar primeiro só para não ouvir tudo que vai ser dito.”
“Aí está ele um a mais, um a menos, outra história de amor desperdiçada. Eu realmente gostei desta história.” Marion continua relatando: quando tudo termina, nunca mais vemos a pessoa deste jeito (próximo, íntimo). Mais cedo ou mais tarde, o casal vai se esbarrar e se comportar como se nunca estivesse ficado juntos, talvez cada qual em um novo relacionamento, pensando um no outro cada vez menos e menos, até esquecer completamente.
“Para mim é sempre a mesma coisa, terminar, acabar, beber, sair por aí, conhecer um cara aqui outro ali, transar para esquecer o amor. Alguns meses de vazio completo. Procurar desesperadamente um amor verdadeiro, pensar que encontrou até que este acabe também”.
Mas, não pense que este relacionamento acabou, ela diz que há um momento em que não se dá conta mais de separações, e mesmo que esta pessoa acorde todo dia espirrando em seu rosto é com quem você pretende seguir a jornada...

novembro 28, 2008

Amor ,"a vingança nunca é plena"

A maior covardia de um homem é despertar o amor de uma mulher sem ter a intenção de amá-la. Bob Marley
A atração ou a repulsão são na verdade de ordem sexual. Julia Kristeva

Fui diagnosticada como compulsiva incurável. Minha compulsão se manifesta pelo excesso de trabalho (que desenfreado é maldição e desejo de esquecer quem somos), de paixão e de sexo (quase perdendo a cabeça), ainda de ingestão de bebida e de comida, com tempo, energia e eventualmente dinheiro desperdiçados em cada uma dessas funções. Ah! para meu bem estas coisas não acontecem ao mesmo tempo.
A maioria das compulsões envolvem morbidez e sacrifício (este não é o caso do sexo ou da comilança) entretanto todas levam a ansiedade, a culpa e a baixa estima, algumas vezes a fobias e ao delírio. Os comportamentos compulsivos evidentes ganham termos pejorativos, uma semântica de desprezo e hojeriza social.
Em rupturas afetivas reicindem os passos, tais como foram designados nesta fórmula de José Gil: AMOR → dor da não reciprocidade afetiva → sofrimento-ressentimento → inveja → vingança (mau-olhado, vendeta). Na raiz da palavra inveja já contém o olho ruim. Isso não se pode evitar.
Atroz contradição a da inveja, assim como a do ciúme, nascem do amor e matam o amor, digo recorrendo a uma frase de Simone de Beauvoir. O ciúme e a inveja interrompem o fluxo de afeto. Pois é, não é demais repetir:
“Ciúme é o acúmulo de dúvida, incerteza de si mesmo, projetado. Assim jogado como lama anti-erótica na cara do desejo mais intenso de ficar com a pessoa” (Katia B).
A minha experiência não ocorre exatamente na ordem da fórmula de José Gil e, quase sempre é interrompida antes de chegar ao ponto da vingança. Se por acaso, o quebranto se realiza vem muito tarde, vem depois do esquecimento. Mas não antes de ter me envenenado a alma. Seu Madruga está certo: "A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena".
Antes de chegar ao ponto da vendeta, desencadeio um processo autodestrutivo novamente compulsivo. Na penúltima ruptura "amorosa (?)", preenchi o vazio do amor que antes se disseminava em meu corpo, ocupando mais espaço no mundo (sem ter o direito) com obesidade. Anestesiava o corpo e recusava a encarar a dor. Antes disso, experimentei uma espécie de síndrome de pânico. Neste o amor foi substituído pelo terror. Fiquei possuída pelo sentimento ruim que poderia enviar ao outro. Imediatamente após a aparente cura dessa possessão, procurei consolo em outros corpos, foi então descobri que é bobagem transar ou “beijar uma pessoa para esquecer outra” (Mário Quintana). Mas vamos combinar: o tempo que cura tudo, é melhor usufruído do lado de um corpo quentinho que te deseja (quando te deseja). Em todo caso, é melhor do que o mau-olhado introvertido.
No entanto o mundo continua esvaziado, nem o sexo nem a bebida substituem o tédio e sua insipidez; amenizam a cólera (ímpeto violento), o ódio (paixão que impele desejar mal a alguém), a raiva (aversão) e o ressentimento (mágoa).
A cólera em mim é passageira e sempre deixa estragos; o ódio vem lento, porém não fica muito tempo. A raiva dura mais ora transmuta em mágoa ora em pasmo. Pasmar tem a ver com admirar (olho bom), mas também com inércia e assombro. Ocorre-me nesta fase mais nos aspectos negativos. Com o tempo a raiva também se dissipa não em esquecimento. Não tenho a qualidade de não ser ressentida, não sou um ser nietzscheano e sou mulher. “A mulher aprende a odiar na medida em que desaprende encantar.” Estou me aproximando da fase em que se perde o encanto. Conheço mesmo um homem que diria que este tempo já chegou. É o objeto do meu atual mal estar.
Talvez seja a culpa que me faz evitar chegar a vendeta. Não somente a culpa, mas também a incompetência para a maldade. Não é que não saiba ser maldosa, o que eu não sei é fazer maldade. Não tenho a disciplina, a paciência e a mente estratégica necessária. Por outro lado prezo muito meu tempo para desperdiçá-lo mais ainda.
Sou ressentida sim, contudo, não em tempo integral. Me divirto nos dias de festa, no meio da multidão esqueço. Em todo caso, não esquecer por completo é precaução para não cair nas mesmas ciladas de sempre. Ai quem me dera, não reincidisse. Estaria agora fazendo um hino a Dionísio ou a Bob Dylan oua Benicio Del Toro em vez de cismar (obsessivamente) porque me meto nestas situações.
Um cara nada ressentido como Bob Marley fala da crueldade de um homem despertar o amor de uma mulher sem a intenção de corresponder-lhe. Mário Quintana por outro lado diz o oposto: A coisa mais cruel que se pode fazer é se permitir apaixonar por alguém quando este alguém não pretende fazer o mesmo. Não foi por falta de aviso, é certo. Contudo, eu também avisei que não tinha nada menos do que todo meu amor para dar. A mágoa maior nem é perder o amor é não poder mais nunca mais confiar na pessoa.
O amor-aversão, desejo-rejeição são da ordem do jogo complementar de forças. Eu não sou inocente nem vítima nem algoz. E eu tenho aquela habilidade das mulheres, da qual Nietzsche nos acusa, de “levar insidiosamente o próximo a uma boa opinião de si e, depois, acreditar piamente nessa boa opinião”. Cai na minha própria armadilha, me apaixonei de novo por um personagem?
Devia me perguntar todo dia “o que eu estou ajudando a fazer de mim mesma?”. Porque deixei esta lama anti-erótica me cobrir novamente (leva anos para sair), quando foi que esqueci o desejo por causa do apego, porque razão eu abri mão do prazer e do gozo para ficar batendo a cabeça na parede. Porque cheguei até aqui tão íntima do rancor, da mágoa e do ressentimento e tão longe do amor.

Vendeta: é uma sequência de ações e contra-ações motivadas por vingança que duram anos, foi habitual em grupos do mediterrâneo.

Referências:
Metafenomenologia da inveja: magia e política de José Gil. In. Nietzsche e Deleuze, Bábaros e Civilizados. Organizado por Daniel Lins e Peter Pal Pelbart. Ed. AnnaBlume.
Imagens de Foucault e Deleuze. Rago, Margareth et al (org)

novembro 26, 2008

...

Bloco de notas, acessórios, contas erradas, ato falho, calculadora, visita a arquivos, compras compulsivas de livros, tonteiras devido anuladores, roupas largas, sensação de tédio, perspectivas, horizontes, mudança de shampoo, cremes, pele macia, chuva, goteiras no teto da cobertura, gatos fugindo para baixo da escada, filha morando longe, um vácuo no coração, sensação que tudo o tempo cura, me sentindo sem ter com quem falar, mas sem ter o que falar além dos fatos cotidianos, excepcional foi conhecer as amigas que moram com minha filha...
faltando a compromissos não muito importantes e por ai vai. A vida é chata mas é vida...

novembro 08, 2008

Espelho na desordem do mundo

A peça "A ordem do mundo" foi um espelho. Eu não teria tanto equilíbrio nem tanto orgulho de sapatos vermelhos com salto de 20 cm, não poderia me chamar de loura radiante, não estou tão em forma como Helena a única personagem da peça. Não tenho mais ilusões com o "poder", mas não abro mão do meu lugar. Ainda não tomo anuladores ou tomo? Fico tão deseperada por causa da minha filha e por amores fracassados quanto Helena. E inclusive, como ela, tenho a capacidade de esperar um telefonema de Pedro, que tem a capacidade de não me ligar. Também sou uma chata a citar filósofos, cientistas sociais, discutir Kant e suas três questões: o que posso pensar, o que posso fazer e o que posso esperar. Não obstante a encenação parecer uma conferência, há pessoas assim, eu sou meio assim. E também falo sozinha.
Helena procura em vão a ordem do mundo em jornais (é o seu trabalho), faz fórmulas, elabora categorias. Mas não há categorias disponíveis. As designadas se embaralham a todo momento. Em conclusão tal como o monge budista, constata-se que não há ordem no mundo, pois se não conseguimos enxergá-la é o mesmo que não haver.

Texto da peça : Patrícia Melo Direção: Aderbal Freire Filho Elenco: Drica Moraes


novembro 02, 2008

Estados de ânimo 2


O corpo fala por meio dos sintomas. A obesidade é uma forma de resolver o vazio da existência ocupando espaço, anorexia é uma forma de reação ao mesmo vazio auto-devorando-se. O medo do contato é medo do contágio, a inércia é medo do movimento da vida, a imobilidade é o temor de perder os devires (nada mal). E há as cascas daqueles que temem separações ou sofrimentos e não deixam que se aproximem deles ou daqueles arrogantes que vivem para si mesmos.
O modo como aparecem na face as marcas é um lento congelamento das emoções ou expressões recorrentes. Quando era pequena Mariana me desenhava sempre com um sorriso largo e cheia de buracos, na época minha analista (lacaniana) me disse que ela via minhas feridas (emocionais). O corpo não mente, ainda bem que nem todo mundo consegue ler estas marcas do corpo. Senão a vida social ficaria impossível. Por outro lado, há alguns que sacam tudo, e quando eles colocam o espelho na nossa cara, nossa auto-imagem desmonta. Eu sou esta? Não era bem assim que eu me via.

outubro 29, 2008

Duas ou três coisas que eu sei sobre mim

Inspirada no cineasta iraniano Abbas Kiarostami (finalmente me afasto da linha do diário de Bridget Jones 1). E também pensando na frase de Gadamer que “não conhecemos a nós mesmos”, minhas últimas experiências me comprovam isso relativamente a mim, evidentemente. Fiz uma listinha provisória (claro) de duas ou três coisas mais ou menos, que eu sei sobre mim:
Eu sou mesmo desmedida, devo adquirir um indicador de limites urgente;

Sou muito teimosa, já me dei mal por isso, e não aprendo;

Tenho dificuldades de aceitar o movimento próprio da vida, mas não de mudar;

E tem outra coisa, quando amo, dou minha alma toda, e no fim, preciso de alguns anos pra me recuperar e para deixar sair (apego?). Tudo é muito lento.
"ando com balde de água embaixo de cada olho, preciso ir bem devagar, senão derrama" Viviane Mosé

outubro 25, 2008

Oração


Meu Deus me dê vergonha na cara. Não por orgulho que é oco. Não pela vaidade que é inútil. Nem pelo medo do vexame, pois este foi inevitável.
Eu já levei todos os foras, já tomei todos os gelos, que sou capaz de assimilar. Mandaram-me ser feliz bem longe, cá onde estou. A recorrente mão estendida no ar , eu sei que é um sintoma que se compraz na rejeição. Isso me obscurece a vista e enfeia o mundo, me mata o desejo, aniquila minhas ilusões, que para mim equivalem à fé. Cada sensação desta condição deve ser mais um pecado computado à minha conta (bem alta por sinal).
Pois se sou eu o erro e a errada, Deus, eu não te peço muito, devolva-me a lucidez ou me premie com o esquecimento. Quero fazer jus a ser sua criatura, Quero de novo a volúpia dos dias de sol.

Se se pode reconhecer a essência de todos os seres no céu e na terra pelas atrações que exercem, o que dão a saber as rejeições ?

outubro 17, 2008

Historinha infantil

Á Socrates, velho esperto, pois nunca lhe faltaram amigos e amantes

Era uma menina de cinco ou seis anos, na época mais Electra de sua vida, sentia saudades do pai o dia inteiro enquanto ele trabalhava. Num desses dias quando o pai chegou tarde da noite, com seu coraçãozinho batendo de alegria, ela correu e abraçou-lhe as pernas, altura ao seu alcance. Talvez o pai tenha tido um dia difícil no trabalho, se aborrecido ou apenas estivesse com dor no fígado, o fato é que ele a empurrou com força como quem dissesse: “sai menina enjoada”. Isso marca como um amor não correspondido.
Um dos seus amores era vazio como um ator de fotonovela “Sétimo Céu”, mas tinha os olhos azuis, mais tarde, ela chegou a conclusão de que tinha amado um personagem, quem não fez isso? Talvez seja sempre isso mesmo que acontece quando se ama, dada a incomunicabilidade e a intradutibilidade entre gestos, palavras, atos e coisas dos humanos.
Um dos seus amores era um cara que dizia amar a verdade. É certo que ele sempre foi extremamente sincero. Mas ele colocava um espelho na frente das palavras que ela dizia, e as palavras, ou mais precisamente, seus sentidos, retornavam vazios, inúteis e invertidos muitas vezes retorcidos ... Tal como Sócrates que condenava a tragédia e defendia a verdade, que condenava os sofistas e fazia a mesma operação, esvaziando o mito, usando-o para seu benefício próprio, identificando o desejo como a falta, fazendo de Eros um simples amigo e da beleza numa idéia... Contudo isso, ela amou este homem, não um personagem. Enfim, esta história mais pareceu a história de dois cometas desgovernados que se trombaram por acaso no universo e por um tempo percorreram perfilados no espaço. Então cada qual seguiu seguiu seu caminho na imensidão, como era de se esperar.

Cada um desses encontros ou desencontros é uma estória da vida, as quais damos os "nomes que quisermos", mas não é uma choradeira sobre ser infeliz, sobre não ser amado. Afinal, tem-se caber no sonho de alguém. Isso não é fácil, mesmo porque requer competência e habilidade especiais ...

A historinha é uma resposta aos encadeamentos, às repetições que não se entende muito bem ou nadinha mesmo por que acontecem.

outubro 16, 2008

Só Deixo Meu Coração Na Mão de Quem Pode

Só Deixo Meu Coração Na Mão de Quem Pode
Katia B
Trilha sonora do filme “Não por acaso”
Vi este filme. A trilha sonora é muito legal, tem Nazi e Fausto Fawcett, esta letra expressa um desejo de ser tão boa quanto...

Só deixo meu coração na mão de quem pode
Fazer da minha alma suporte para uma vida insinuante
Insinuante anti tudo que não possa ser
Bossa Nova Hard Core
Bossa Nova Nota Dez
Quero dizer, eu to pra tudo nesse mundo
Então, só vou deixar meu coração, a alma do meu corpo, na mão de quem pode
Na mão de quem pode e absorve
Tanto no céu que no inferno
Inspiração de Mutação
Da vagabunda intenção
De se jogar na dança absoluta da matança do que é tédio, conformismo, aceitação
E eu fico aqui vou te levando nessa dança
Sobre o mundo Pode tudo do amor Pode tudo do amor
Porque eu não quero teu ciúme que é o cúmulo
Ciúme é o acúmulo de dúvida, incerteza de si mesmo, projetado
Assim jogado como lama anti-erótica na cara do desejo mais intenso de ficar com a pessoa

Eu não to a toa
Eu sou muito boa
Eu sou muito boa pra vida

Eu sou a vida oferecida como dança
E eu não quero “te dar gelo”
Diabos que o carregue
Vê se aprende, se desprende
Vem pra mim que sou a esfinge do amor
Te sussurrando Decifra-me, decifra-me
Refrão
Só deixo minha alma, só deixo o coração
Só deixo minha alma na mão de quem pode
– voz masculina –vê se aprende, se desprende——————-
Só deixo minha alma, só deixo meu coração
Na mão de quem ama solto!

outubro 10, 2008

“My Blueberry Nights”

Assisti ao filme “My Blueberry Nights” , do diretor chinês Wong Kar-wai. O filme não apenas é um dengo, é delicado, com passagens dramáticas, claro. Assiti muitas, muitas vezes. Norah Jones e Jude Law, interpretam Elizabeth e Jeremy, se conhecem no café dele quando ela rompe com o namorado que arrumou outra. No seu primeiro diálogo Jeremy diz:

"Em minhas observações, as vezes não há explicação e em outras é melhor não saber".

Ele continua: "Veja o caso da torta de Blueberry; as tortas de cheessecake e a de chocolate toda noite acabam enquanto a de blueberry fica intocada, não há problema com ela, só que ninguém a escolheu".

“My Blueberry Nights” poderia ser chamado de “Choose Me” diz uma crítica que eu li, que ainda comenta uma certa relação visual com o pintor Edward Hooper, no Brasil, o filme foi nomeado de "O beijo roubado" este aí de baixo.
Ela decide tomar o caminho mais longo antes de recomeçar. Passa um tempo sendo garçonete naqueles bares típicos americanos. Contudo, há um recomeço sim.

setembro 24, 2008

Se eu fosse menos desmedida e menos desnecessária

Se eu fosse menos desmedida e menos desnecessária, eu nunca ficaria bêbada. Não teria entrado para o clube dos haxinxins. Jamais teria dormido nos braços de Morfeu. Não teria me metido com os homens errados. Nunca teria perdido tempo me apaixonando perdidamente. Talvez me tivessem amado com sinceridade. Não teria tantos livros e os leria pela metade. Saberia que pesquisa fazer com tudo que passa pela minha cabeça. Teria dois livros publicados e um no prelo.

Em meu coração só passariam sentimentos sãos. Eu seria caridosa e menos arrogante. Só faria bondade a pessoas merecedoras. Nunca seria condescendente com os incompetentes e os incapazes. A contragosto deixaria de ser impiedosa com quem me apurrinha demais da conta. Não erraria sem rumo em busca de ser feliz. Teria planos bem feitos, passados a limpo e projetos executados. Nunca dormiria sem tomar banho. Meu cheirinho seria sempre bom. Seria rica, rodeada de amigos francos. Dançaria no quadro primavera de Botticelli, sem nunca ficar velha, nem gorda e nem feia.

setembro 22, 2008

Quando você não está por perto Meu mundo é um deserto no frio

Eu quero ficar nu diante dos teus olhos
Falar bem perto do seu ouvido
Decifrar tua alma e os gemidos
Temos tempo pra viver
Quero descobrir o amor de novo
Encontrar em alguém o que eu procuro
Livrar o amor do escuro
E destruir o muro
Que cerca meu coração
A vida me sorriu, permitiu você nascer
Estrela pra dar sorte
Por tudo que a gente fez
É pura tua luz, teu rosto, teu olhar
Quando você está longe
A mim só resta lembrar
Quando você não está por perto Meu mundo é um deserto no frio*


*o nome da música é "Quando você não está por perto" de Guto Goffi/Roberto Frejat

setembro 10, 2008

8 decisões para levar o momento seguidas de comentários do I Ching

1- Ter intransigência comigo mesma (conter e nutrir);
2- Cumprir minhas tarefas iminentes (hora de planejar, isso requer solidão, reunir forças para realizar o trabalho);
3- Pacto de silêncio (manter a quietude e o recolhimento);
4- Não procurar por ele em nenhum dos mundos conhecidos ou desconhecidos nem terreno, nem extraterreno, nem virtual (conter e manter-me quieta);
5- Não adoecer (não me afligir por causa da solidão);
6- Tentar me curar (esforço moral para manter a ordem);
7- Esquecer (renunciar);
8- Não me esquecer de respirar (calma interior e adaptação às circunstâncias).

Escrito numa noite de insônia.

setembro 08, 2008

"Esta história, este episódio, esta aventura dê a ela o nome que quiser".

Do grego: kategoría (acusação, atributo), pelo latim categoria. Conceitos gerais que exprimem as diversas relações que podemos estabelecer entre idéias ou fatos. Originalmente significa acusação, no sentido de atribuir um predicado a algo ou alguém. Aristóteles, o primeiro a usar o termo em sentido técnico, assim chamava “categoria do ser” aos predicados gerais atribuídos ao mesmo, correspondendo, então, as distintas classes do ser, distintas classes de predicados. A teoria das categorias, ou praedicamenta, iniciada pelo estagirita, prossegue - sofrendo constantes intervenções, acréscimos, depuramentos - pela filosofia grega e medieval até nossos dias. Do Wikipedia...
"Esta história, este episódio, esta aventura dê a ela o nome que quiser".
Pois é esta frase de Conrad, me aproprio dela doravante, se coloca no sentido de abrir mão de categorias, que me importa mesmo agora que acabou.

setembro 02, 2008

Estado de ânimo que vem e vai

"Back To Black" Amy Winehouse

He left no time to regret Kept his dick wet With his same old safe bet Me and my head high And my tears dry Get on without my guy You went back to what you knew So far removed from all that we went through And I tread a troubled track My odds are stacked I'll go back to black We only said good-bye with words I died a hundred times You go back to her And I go back to..... I go back to us I love you much It's not enough You love blow and I love puff And life is like a pipe And I'm a tiny penny rolling up the walls inside We only said goodbye with words I died a hundred times You go back to her And I go back to Black, black, black, black, black, black, black, I go back to I go back to We only said good-bye with words I died a hundred times You go back to her And I go back to We only said good-bye with words I died a hundred times You go back to her And I go back to black



Tradução pra ficar bem claro, embora sejam metáforas...

Ele não perdeu tempo se arrependendo E ainda molhado de sexo Fez o mesmo jogo de sempre E eu, chapada e sem forças pra chorar Sigo sem ele Você voltou pro mundo que conhece sem pensar nas coisas que passamos E eu vou pelo pior caminho Sem perspectivas Eu voltarei para o poço ** (varias expressões, na verdade: escuridão, vazio ou maconha)
Nos despedimos com palavras E essa dor me mata a toda hora Você volta pra ela E eu volto Eu volto pra nós Te amo demais Mas não é suficiente Você gosta de cheirar e eu de fumar E a vida é um grande canudo E eu sou uma moedinha rolando nas suas paredes Nos despedimos com palavras E essa dor me mata a toda hora Você volta pra ela
E eu volto Pro poço (pra escuridão ou pro vazio). ou a ser invisível...

julho 22, 2008



Pra Ser Só Minha Mulher
Otto canta (e eu não páro de ouvir, fiz uma mudança no final,,,)
Composição: Erasmo Carlos / Ronnie Von

Ah esse amor que me arrastaMe gasta e me faz sofrer. Mas me devolve a vida, Escondida Em quartos que eu não sei dormir.
Ah esse amor bandido, Contido, Quer me machucar. Mas só me traz verdades Que a idade toda não consegue dar.
Abra os braços pra me guardar, Que eu todo vou me entregar, Começo, meio e fim. E a minha cuca ruim. Aperte a minha mão, Esse caminho é a solução. Pra te levar se quiser, Pra ser só minha mulher.
Ah esse amor selvagem, Passagem pra loucura e pra dor. Mas eu confio na sorte. Eu sou forte como o bicho mais feroz. Ah esse amor aflito, Que eu grito e ninguém pode ouvir. Mas me renova os sonhos, Que eu componho em versos pra você dormir.

junho 06, 2008

Morar, mudar...estar em paz sobre a terra


Habitar, ser trazido à paz de um abrigo, diz: permanecer pacificado na liberdadede um pertencimento, resguardar cada coisa em sua essência. O traço fundamental do habitar é esse resguardo. O resguardo perpassa o habitar em toda a sua amplitude. Mostra-se tão logo nos dispomos a pensar que ser homem consiste em habitar e, isso, no sentido de um demorar-se dos mortais sobre essa terra. diz Heidegger

maio 20, 2008

marionete da emoção...qual a mão que manipula


autoria Maldoror
"A vida é uma grande encenação não sou bom ator quero sair de cena, parem a peça vou descer viver é uma grande mentira somos marionetes de um sistema viciado sou um mendigo enclausurado (...)
Hamlet vem me buscar na carruagem de sonho e melancolia sou um nada no seu tudo e você nada ...vou morrer afogado (.)"

março 29, 2008

Dont Panic Dont Panic Dont Panic



bones sinking like stones all that we fought for homes, places we’ve grown all of us are done for. but we live in a beautiful world, yeah we do yeah we do. we live in a beautiful world. oh all that I know, there’s nothing here to run from ‘cos yeah, everybody here’s got somebody to lean on. coldplay.

março 28, 2008

um cão abandonado

Haverá sempre, em algum lugar, um cão abandonado, que me impedirá de ser feliz..." Jean Anouilh
Homens, crianças, velhos e outros bichos abandonados , até criaturas imaginárias, com certeza haverá ainda muitos motivos para tristeza...

Leiam é triste: http://www.mundodosanimais.com/foruns/pelos-animais/o-'artista'-que-matou-um-cao-a-fome-vai-repetir-o-acto!-vamos-la-participar-(n/msg63768/#msg63768





março 08, 2008

LISTA DE PREFERÊNCIAS

Alegrias, as desmedidas.
Dores, as não curtidas.

Casos, os inconcebíveis.
Conselhos, os inexeqüíveis.

Meninas, as veras.
Mulheres, insinceras.

Orgasmos, os múltiplos.
Ódios, os mútuos.

Domicílios, os passageiros.
Adeuses, os bem ligeiros.

Artes, as não rentáveis.
Professores, os enterráveis.

Prazeres, os transparentes.
Projetos, os contingentes.

Inimigos, os delicados.
Amigos, os estouvados.

Cores, o rubro.
Meses, outubro.

Elementos, os fogos.
Divindades, o logos.

Vidas, as espontâneas.
Mortes, as instantâneas.

(Poema de Brecht traduzido por Paulo César de Souza)








março 06, 2008

horror vacui

Vazio, vácuo, vão, dentro íntimo oco âmago buraco. Antro. Clausura claustrofobia. Fenda ventre gruta caverna. Vagina Vaga lacuna. Clarão. Espaço confinado entre limite e extremidade. Cerne. Não estar nem ser, dissipar-se em si. Rotura recesso. Silêncio. Eternidade. Hiato ponto pausa pouso interstício. Nada. Tudo céu tudo janela tudo porta, fresta greta brecha. Aberto por onde entrar passar através sair sumir desaparecer. Trevas. Cegueira. Solidão. Deserto ermo. Carência falta ausência pobreza. Branco imaculado limpo puro. Sem marca, sem destino. Destituído desterrado despaisado. Depois, presença prenhe: Os tempos mostram, marcada na carne, a dor que fala. Inútil não ser o que se é, no sentido de estar.

Inútil lutar para ser outro, inútil lançar pontes de palavras que chegam estilhaçadas ao outro, por que ele as filtra, penera, mesmo quando diz ouvi, mesmo quando diz entendi... A linguagem é o tempo todo tradução, inútil querer ser compreendido... Antes ser abraçado, enlaçado, devorado, antes talvez sejam bons a solidão, o silêncio e ainda a companhia dos bichos, pois só querem o calor de outro corpo junto ao seu. Esta, a linguagem outra não analítica, não simplificadora, não explicativa.
Isso tudo não quer dizer destino, a cargo de Deuses que foram para uma festa e não voltaram, isso tudo diz respeito a diálogo, a encontro, a nomear coisas, compartilhar assuntos...

* A partir de Simone Weil em “A Gravidade e a Graça”, diria que foi preciso uma representação do mundo em que houvesse vazio, a fim de que o mundo tivesse necessidade de Deus.
Novembro 2001

Burnt the fire of thine eyes?

Santa Cecilia de Stefano-Maderno & Willian Blake (Ardeu o fogo de teus olhos).


fevereiro 18, 2008

Well you know it's good for your head...

Nem escrevo mais, apenas fico ao seu lado, tédio. Fico ao teu lado sem beijo e sem cheiro.
Você diz que eu fiz um cerco ao seu redor, mas repare há uma saída pelo lado direito, por onde você pode dar sua volta no universo; você não vê a saída por que crê que as cercas são sólidas, mas repare elas são feitas de vapor das minhas lágrimas antigas e recentes; Eu fico ao seu lado. A música é boa, a conversa é fácil; embora seus olhos sejam tristes e jamais chorem por mim; As vezes você me faz rir as vezes me irrita muito; quando é assim, eu mesma quero sair pela porta afora; mas você segura meu braço, diz uma palavra e eu fico ao seu lado; não pela retórica nem pelo conteúdo; mas por que as palavras são certas;
No final das contas, as palavras estão demasiadamente ditas, fico ao seu lado...



Interlúdio (Cecília Meireles)
"As palavras estão muito ditas e o mundo muito pensado. Fico ao teu lado. Não me digas que há futuro nem passado. Deixa o presente — claro muro sem coisas escritas. Deixa o presente. Não fales, Não me expliques o presente, pois é tudo demasiado. Em águas de eternamente, o cometa dos meus males afunda, desarvorado. Fico ao teu lado."