dezembro 30, 2010

Green Day - Working Class Hero

guerra é de quem de guerra for capaz



[...] Quando o intelectual ocidental parte para a ação, sua sereia, vai normalmente para a política, esse simulacro da ação, que substitui a verdadeira ação, que é a guerra, pelos vai-e-vens das conversações e negociações, próprias da classe dos negociantes. [LEMISNKI, Paulo. Anseios crípticos 2. Curitiba: Criar Edições, 2001. p. 29].

Guerra sou eu/ guerra é você / guerra é de quem de guerra for capaz / guerra é assunto importante demais para ser deixado na mão dos generais. (P. Leminski)

O fato é que eu nunca quis negociar, nem saberia. Desde gerações passadas sequer tivemos idéia do que seja a boa vida, condenados por boa vontade ao trabalho, com toda sua carga de "tormento, de agonia e de sofrimento". Como desejar algo desconhecido seja ócio seja negócio? Para estes é preciso ser talhado de berço. Fui talhada no berço para trabalhar, outro fato é que aquele que trabalha "não tem tempo para política" nem meios para os negócios.

Negocio, advém de “sem ócio”, ócio era algo sem recompensa, negócio então significava “não sem recompensa”. Depois como tudo em semântica, os significados modificaram-se e negociar se tornou lidar com negócios; transacionar comercialmente; permutar ou vender por contrato, agenciar, diligenciar, pactuar; firmar e/ou celebrar (acordo, ajuste, contrato). Estes últimos são mais próximos do sentido que Leminski atribui.

Com o texto sobre o escritor japonês Mishima, Leminski abala [para mim] a tese de Hannah Arendt. De acordo com Leminski “o espírito dos ocidentais pensa a matéria, o Fora. Num gesto muito mais genial, porque mais global, essencialmente radical, Mishima resolve o problema transformando seu espírito em matéria, matéria pensante, inteligente”. Referia-se ao fato dele além de escritor cultuar seu corpo mediante artes marciais, com toda carga de tradição e modo de vida relacionada à estas.

Para Hannah Arendt (em a Condição Humana) a “ação é a atividade que se exerce entre homens sem a mediação de coisas e da matéria”. Ação é condição de pluralidade. Hannah diz que “todos os aspectos da condição humana tem relação com a política”, a pluralidade é a condição de toda vida política. Ela diz que o povo mais político que conhece, os romanos têm como sinônimas as palavras viver e estar entre homens, morrer é deixar de estar entre homens. A ação é uma das atividades humanas juntamente com labor (reprodutiva) e trabalho (produtiva de mundos artificiais, manufaturados). A ação é a que cria condição para a “lembrança” e a “história” assim como pensar novos começos.

Gregos decidiam politicamente por meio do diálogo, pela persuasão não pela força ou coerção. Agostinho (cristianismo) por sua vez introduz a idéia de vida negotiosa ou actuosa, ou seja dedicada aos assuntos políticos ou públicos. Trabalho e labor permanecem atividades subalternas, enquanto que a vida contemplativa é considerada, ainda, o único modo de vida livre. (no cristianismo)

Contemplação é a cessação da ocupação e do desassossego, a cessação do movimento, a quietude. Todo movimento cessa, todo discurso e raciocínio cessa diante da verdade. Assim como “a guerra ocorre em benefício da paz” o pensamento culmina com a “quietude da contemplação”. Ela diz que a negociação advém com o homem faber, aquele que  se relaciona com outros trocando produtos. "Uma vez que ele produz no isolamento". A esfera pública deste homem é o mercado, onde cria o apetite pela barganha e pelo consumo. No mercado o homem faber deixa o isolamento. Uma "sociedade de operários" o valor dos homens é dado por sua função. Ela diz, ainda, que este fabrica no isolamento para o consumo privado. O valor deste produto é dado na esfera pública.
Opinião, diametralmente oposta a noção de que a troca é um dos principais meios da relação isolamento-individualização, já que ‘"torna supérfluo o gregarismo e o dissolve". (Marx apud Canevacci. p. 7). Eu mesma não acho que se produza algo sozinho, anos e anos de aperfeiçoamento de técnica, saberes estão inclusivos num processo produtivo.

Pode-se deduzir de Marx que a criação do homem vem do trabalho humano . Contudo aos operários, a sociedade dá o preço e o desprezo, o mesmo desprezo que é dado aos convivas ociosos "que nada deixam de si em troca pelo que consomem", Adam Smith citado por Arendt (p. 97). Ociosos e operários "são" isentos de  atividade política, segundo este racicínio (não é o meu, nem sei se é totalmente o da Hannah). No caso dos operários a insatisfação com a servilidade demonstra-se com a sabotagem, a procrastinação (mesmo), a greve. Trabalhar cansa! Mesmo operários relutam em cotejar trabalho e vida.



Não é toa que quando voltaram da primeira guerra os operários europeus se arrogaram  a "poder" como diz Argan em Arte Moderna: "A classe operária, consciente de ter contribuído e sofrido com o esforço bélico mais do que qualquer outra, vai adquirindo peso político decisivo. Além disto, a revolução bolchevique demonstrou que o proletariado pode conquistar e manter o poder. Nós já tivemos operários presidentes.
Gosto das coisas porque passaram por mãos e cérebros humanos, são encartes de conhecimento, de saber fazer, talvez os objetos hoje sejam constructos-experiência, reservatórios da experiência - já que a narrativa, diálogo, conversação estão em "crise". Concordo com Vicente Guallard quando diz que "os objetos pensam, reagem e atuam, além de suas qualidades materiais, os espaços e os lugares devem [responder] relacionar-se com eles. Os objetos pensam porque alguém pensou neles. Programou-os e lhes atribuiu qualidades para que se integrem em uma nova lógica do mundo em que tudo está conectado com tudo”. 

Ok, mas isso não confere ao operário nenhum dignidade a mais, o designer, o técnico, o gerente, o executivo adquirem este valor. E as conversações ficam para os filósofos e os sindicalistas (estes já no fim de carreira).

Leminski por meio de Mishima propõe algo diferente a guerra (negociar) é mais do que a política (persuasão, consenso). Guerra diz respeito a todos não é prerrogativa militar. O livro relatado por Leminski “Sol e Aço" de Mishima, se trava "a luta com as palavras. A luta com as armas. A luta consigo mesmo. A luta contra o destino." é a luta e o "Amor pelo sol.”

Voltando a mim mesma, o aprendizado da negociação é o que tenho  recusado, talvez seja hora de aprender viver entre os homens e mulheres não por um sentimento qualquer mas ocupar um lugar (diz Agamben que isso é um bem). Aceitar o que diz Zeca Baleiro “antes o atrito que o contrato”. Não devo estar cansada de guerra só de observá-la. Já é hora de voltar ao sol.

dezembro 29, 2010

Numa cena de “Comer, rezar e amar” um amigo diz a protagonista para ela deixar os pensamentos saírem para que o universo possa entrar. Aproximando isso ao meu mundo, bem que eu gostaria de achar um modo dos meus pensamentos saírem de mim: são demasiadas pendências. Porém não sei não se quero que o universo entre em mim. Deve demorar mais e doer mais para sair do que os pensamentos.

dezembro 21, 2010

"Nesta Era MídiaVil, minha IndignAção é igual, meu karatê é verbal...


Aos Amigos, Tudo! aos inimigos, o youtube!

A web gira e o wikileaks roda. De post em post o nauta acha o lost.

O preço da felicidade é a eterna militancia." In. wilson yoshio.blogspot

http://blogdosamuraiuchinanchu.blogspot.com/

dezembro 15, 2010

Anjos e vampiros, insights incompletos

Nos primeiros anos da "era" informacional, segundo Michel Serres, ressurge a figura dos “mensageiros”, enunciada pelas antiqüíssimas lendas dos anjos que conhecemos por meio das grandes religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo, islamismo). O anjo, velha e nova figura, Angelos, em grego significa mensageiro.
Serres diz que todo dia, nas cidades contemporâneas, descem para trabalhar Prometeus, Hércules, Atlas, entre eles estão os Arcanjos, portadores de mensagens, que muitas vezes controlam motores.
Na história, no drama dos trabalhos, Serres em seu livro "Atlas" designa que são três atos: carregar, aquecer e transmitir. Deste último, os anjos são as figuras representativas, o estado da matéria que marca o mundo onde circulam signos invisíveis é volátil, e o problema aí não é o da forma, não é da transformação mas o da informação.

Serres diz: "O anjo possui ao mesmo tempo um olhar acerado de inteligência e um olhar piedoso.”
"o anjo permite ao mesmo tempo compreender, por finas técnicas, o funcionamento das coisas, dos homens ou dos utensílios e de expor a moral, coisa rara.” O anjo faz a mediação entre dois universos", o material e o imaterial.

A era “comunicacional”, ainda de acordo com Serres, pratica  reduções do conceito". Isso se releva quando Serres  e alguns cineastas nos remetem ao universo “angelical” mais uma vez.

Os anjos aparecem em filmes dos anos 1980-90,como: "Asas do desejo", do diretor Wim Wenders (1987), cuja tradução literal do alemão seria "O céu sobre Berlim" (Der Himmel über Berlin) e Cidade dos Anjos, direção de Brad Silberling com Nicolas Cage e Meg Ryan (1998). São filmes sobre o inefável, a leveza, os fluxos invisíveis, intangíveis, vice-versa.

Asas do Desejo remete, entre outras coisas, a memória, a compreensão das coisas com olhar empático. Sobre os escombros, ruina e vazios de Berlim recem unificada o anjo paira. O ponto de vista que sobrevoa a cidade é o que o cineasta nos proporciona.
"A câmara é uma arma contra a miséria das coisas, nomeadamente contra o seu desaparecimento. Porquê filmar? diz Wenders

Por sua vez, A cidade dos anjos remete aos sentidos, aos confrontos entre finitude e eternidade. Os anjos não nos mostram a cidade, penduram-se em postes publicitários. Há o mar. E como em Asas do desejo as bibliotecas, as bibliotecas.
Sobre os sentidos: “Eu prefiro ter sentido seu cabelo uma vez, ter dado um beijo uma vez, ter tocado uma vez a sua mão, do que uma eternidade sem isso !!!” diz Seth (Cage) o anjo que se apaixona por uma médica (Meg Ryan)

Os anjos dos dois filmes caem na terra, "To fall in love", apaixonar-se, em inglês, tornam-se humanos para amar e enfrentam a finitude. Enquanto eram anjos eles cuidavam dos outros; "fall in love " também pode ser  aproximado à cair em si?

Já nos anos 2000 vieram os vampiros que são mortos vivos, eternos jovens, não são lá muito sociáveis - sua comunidade é exclusiva, quando não são completamente solitários. As exclusividades sociais são círculos viciosos, segundo Zigmund Bauman em  seu livro "Comunidade": "muitas das forças mais poderosas conspiram, ou pelo menos atuam em uníssono, para perpetuar a tendência exclusivista e a construção de barricadas."
Vampiros contemporâneos são sempre lindos (esqueçam Nosferatu) e ricos. A empatia que o Nosferatu por ventura desperta é diferente, pois em certos momentos aproxima-se da piedade,, como aquela que sentimos pelo filho que saiu torto. A possível simpatia que os vampiros moderninhos despertam, tem algo de inveja, mal olhado. Els são "montados" a maneira das celebridades, pode-se amá-los como um astro qualquer.  A maldição da eternidade do vampiro é suspensa diante dessa "encarnação" de beleza.. A sedução da eternidade e juventude vence.  Drácula de Bram Stoker é plasticamente um belo filme, os atores são charmosos, cool, mas o medo e danação que provoca predomina sobre a beleza e a sedução do Drácula de Gary Oldman. Não dá nem para amar nem para ter piedade., embora seja sempre o amor a desculpa para tudo "love never dies" é o subtítulo do filme Não escamotea o enfrentamento literal do sublime, demasiado grande ou irrascível para assimilar só com os olhos.

Lembrete: Karl Marx compara o capital/capitalista ao vampiro. Este não largará a presa 'enquanto houver um músculo, um nervo, uma gota de sangue a ser explorada' (citação de um texto de 1845 de Friedrich Engels). Já foi o tempo da promessa emancipação do trabalho, da vida boa,, do tempo realmente livre. O trabalho ainda é desassossego, tortura e vampiragem.

Na era informacional/ comunicacional, capitalismo flexível, seja qual for a designação que aprouver, a nova velocidade/ mobilidade emancipa o capital e seus agentes - “proprietários- ausentes”. Os novos jovens vampiros estão bem próximos do que Zigmund Bauman denomina em Globalização de “proprietários- ausentes”.
" Este conjunto de privilegiados obteve liberdade de movimentos – que origina – a “não responsabilização” pelos atos do que faz, precisamente pela capacidade de mobilidade dos movimentos.
Este é o tempo de acordo com Bauman que “alguns podem mover-se para fora da localidade – qualquer localidade – quando quiserem. [Enquanto] outros observam, impotentes, a única localidade em que habitam movendo-se sob os seus pés” , estes são os homens comuns da multidão? fragmentados demais, desengajados demais para notarem sua situação ou destino comum.

As elites extraterritoriais são “globais”. Enquanto isso, o resto da população é cada vez mais “localizada”, tendendo a imobilidade ou sendo forçada a isso. A elite extraterritorial prescinde dos espaços geográficos, não possui vínculos nacionais ou comunitários. "O sentido de comunidade (e de interesse pela comunidade) desaparece na elite." Bauman diz em seu livro "Globalização, as consequências humanas".

No caso dos vampiros não há vínculo nem espacial nem temporal, apenas desengajamento social e territorial, quase não há afetividade ou empatia, quando ocorre é egocêntrica. Afetividade é mais atributo de anjo do que de vampiro. Pensando bem, o anjo catastrófico, traidor de sua via do filme Constantine (com Keanu Reeves, Dirigido por Francis Lawrence) parece marcar essa mudança de marcha na compreensão intuitiva, poética (?) dos eventos ou rumos da vida na globalização (?) da esperança ao cinismo, da utopia a distopia. nada disso é novidade 
Ambos, anjo e vampiro, levam a pensar o ciclo da vida, a maldição do tempo, o "inumano". Depois penso nisso aqui.

dezembro 03, 2010

De volta pra casa

De volta, depois de quase uma semana longe de casa. No Rio, desde sábado um dia antes da ocupação do Alemão. O Rio que eu vivi foi um Rio de paz. Eu só vi o outro lado quando cheguei no Galeão, a Penha sob helicópteros pretos. Sábado e domingo em Ipanema e Leblon. Nos outros dias, andei nas beiradas da Praça XV, bebi mais chop do que devia, comi carnes irreconhecíveis, sentei em calçadas antigas onde vendedores vendiam coisas que eu não precisava, um atrás do outro, insistemente. Neguei dinheiro a um poeta, depois descobri que ele estava com fome. Vi muita gente dormindo na Rua no Centro, nenhum mendigo em Ipanema. O choque de ordem deu certo ?
Andei, estive na Avenida Rio Branco em meio ao povo comum e engravatados que pagam mais de 50 reais por Buffet no almoço (?). Entrei pela primeira vez no Prédio do MEC, tive uma experiência de forno. Como Ipanema e Leblon estão distantes do centro. Dessa vez choveu ... Fui a todas as livrarias que tive e não tive direito, gastei o que não devia. Vou dever...
Ficar só no Rio me deixa deprimida (foi apenas uma segunda assim). Participei de um evento em que encontrei amigos, conhecidos, pessoas que admiro, passei pelo centro e foi bom. O centro do Rio é uma riqueza! Não fui a Gamboa, tomei uma sopa de 5 reais, deixei metade de um copo de vinho.
Conversei com Robson sobre Tostoi. Ele me contou sobre a narrativa sob o ponto de vista de bichos e que tem vontade de fazer uma coletânea sobre esse assunto. Eu contei sobre uma das palestras do encontro que abordou contos de Guimarães Rosa em bois conversavam. Um deels está em "Corpo de Baile". Segundo o expositor os contos tratavam sobre "o quem das coisas".
Estou mudando de novo de opinião sobre narrativas. Dormi mais do que podia, cheguei 20 minutos antes do avião partir de volta.

novembro 15, 2010

Realidade, acho que sei como é

Cresci com estes versos de Vicente de Carvalho na cabeça, são emo, fato, mas, eu também lia Grande Hotel, ex romântica, sem melancolia. Já vai tarde.
A "Felicidade, árvore frondosa de dourados pomos. Existe, sim, mas nós nunca a encontramos porque ela está sempre apenas onde a pomos, e nunca a pomos onde nós estamos." Passados suados 48 anos queria uma versão destes versos, ou uma conversão destes para realidade em vez de felicidade:
Só me restou a realidade, de um ponto de vista materialista pragmático. Recordo ensinamentos marxistas: “realidade síntese de múltiplas determinações” ou “tudo que é sólido se desmancha no ar”.
Sensação reincidente de que a realidade está sempre ou aquém ou além dos desejos, das expectativas, dos recursos, das possibilidades. O que é realidade?(pergunta moderna), onde está? que posição ou disposição ocupa na terra? Terra? Sei o como é... acho que sei.

Realidade não é árvore, não tem pomos e nem a dispomos. Seria rizoma? está por ai e nem aí, como nós em nossas redes, está em toda parte e em nenhuma. Realidade combina com ubiquidade.

outubro 07, 2010

Ainda me deixam falar!!!!

Discutir política é tropeçar nos tapetes das más línguas, estar sujeita à cusparadas ao desprezo e sair estropiada as vezes. Pois, sou lenta, o argumento só vem depois que o debate se encerrou.
Só ruminando muito constato que fui vítima de silogismo barato, o raciocínio que achata diferenças, diversidades é o seguinte: se dirigentes do PT, membros do governo ou aliados cometem atos de corrupção, todo petista é corrupto assim como seus simpatizantes. Como me enquadro na categoria de simpatizante logo sou corrupta. Dizem “lamento muito você é a favor da bandidagem!”.
Não sou não, mas não discuto caso de polícia seja sobre os filhos de Erenice seja sobre o goleiro Bruno porque pra isso existe polícia e justiça, e não posso julgar com as informações que estão disponíveis. Por outro lado, não quero ocupar a posição de juiz de quem quer que seja.
Se evoca o plano epistemológico mas se mantém a discussão no plano de valores. A moral é colocada acima do projeto ou ações governamentais. O projeto e a gestão se “sujam” e você que concorda com projeto, com a gestão e se o defende é ingênua, e se você diz que se vive num momento democrático, pelo menos no momento da escolha e do voto, você não só é ingênuo, é crédulo também. Ridículo de fato. Só não me atribuem a pecha de má fé porque sou boazinha, eu acho! Porque vivo do meu emprego ou tiveram pena de mim porque sou crédula, uma coitada. E só me faltaria essa.
Não façamos confusão com momento democrático em que você exerce o direito democrático do voto com período de governo e as ações legislativas (não só do executivo) quando injunções e lobbies de toda natureza intervém. Aqueles que financiam campanhas provavelmente cobram seu troco, certamente da maioria de deputados e de senadores, que representam agro-negócio, corporações, setores corporativos.
Acho imoral e hipócrita o deslocamento da discussão de programas e projetos para o país estritamente para a questão moral. Afinal política não se exerce especificamente neste âmbito infelizmente, em praticamente nenhum governo do Brasil e do mundo.
Na discussão um sujeito usou uma tática retórica de redução do adversário colocando-se na posição superior, como se ocupasse alguma posição relevante. Primeiro atacou minha moral: sou a favor da bandidagem, depois subestimou minha capacidade de discernimento: sou ingênua; depois veio para o meu campo e me atribuiu erro epistemológico. Cometo erro epistemológico por que me coloco contra o neoliberalismo. A diversidade de pensamento também se dá na ciência política ou não? Ciência política não é estritamente um problema de conhecimento porém de sabedoria, de bom senso, política por sua vez um problema de crença, de simpatia e de afeto.
Simplesmente me afeta alguém supor porque algum espírito de porco pisou feio na bola tenho que jogar fora todo um projeto político e aderir à força ao retrocesso democrático.
Sei que apenas um passo curto foi dado mas ele é concreto. Não é autonomia aceder ao mercado????, milhares acessaram o mercado, a chamada classe c, milhares tem luz elétrica nas regiões rurais, mais milhares entraram em universidade públicas e em escolas técnicas, mais milhares conseguiram empregos, muitos pequenos conseguem exportar seus produtos coisa que gente muito grande conseguia antes. A periferia faz cinema, teatro, fotografia, publica livros. A periferia conta suas próprias histórias não precisa de intermediários, intelectuais e artistas consagrados para isso. Enfim, não sucumbimos a crise como países europeus e os Eua, muito se deve a criatividade da ex ministra da Casa Civil, candidata a presidente do Brasil: a criação do PAC e Minha Casa Minha Vida. Projeto este útil no momento de crise mas que na minha humilde opinião deve ser retotejado às diretrizes pensadas pelo Ministério das Cidades e a redemocratização da questão da habitação, ou seja deve-se reduzir o peso decisório do mercado neste setor.
Posso até romper um dia essa minha simpatia política, pois perdão também cansa de perdoar, mas daí a dar munição para o outro lado,,, tenho que caducar antes que isso aconteça.
Bom Dilma!

agosto 11, 2010



Francis Bacon, 3 estudos de Isabel Rawsthorne, 1965.
Mas tbm pode cantar:
"eu não caibo mais nas roupas que eu cabia, no espelho esta cara não é minha, os anos se passaram enquanto eu dormia e quem eu queria bem me esquecia..."

Olhos pros lados e ninguém...

Uma vez assisti uma entrevista com Clemente, dos Inocentes, em que Frejat, o entrevistador, perguntou como ele se sentia sendo um dos poucos negros do Rock and Roll. Ele respondeu que no movimento punk original (anos 1980) eram muitos os negros, então se sentia "em casa". Estes aos poucos foram migrando para o hip hop, rap e outros ritmos. Então, um dia ele olhou pros lados e tinha só ele no rock. Clemente contou que teve uma pequena crise de identidade e depois pensou: Gosto de rock, não tem mais crise não.
Dizem que professores, por que não saem da escola, não se tornam adultos de fato.
Me sinto assim: muitas vezes, olho pros lados e não tem mais ninguém da minha faixa etária, com a diferença de que nem sempre é tão divertido (e punk) quanto na cena musical rock and roll....

julho 19, 2010

Angelus caído e o espelho mágico

Minha alma de criança chora - eu que disse que não tinha sido uma criança feliz!
Uma criança de quarenta, inábil, incapaz para vida prática e pragmática, que sente vergonha de sua moratória interminável.
Essa minha alma de criança se parece com o angelus de Benjamin - enquanto o anjo olha para tras melancólico, ventos fortes o atiram em direção à vida adulta.
Não posso mais delirar, só me era possível quando meu corpo era jovem e são.
No espelho vejo uma pessoa cada dia mais velha e no cotidiano convivo com algumas pessoas adultas consideradas muito racionais. muito razoáveis e bem sucedidas que não passam de crianças indóceis, pirracentas, impertinentes, intratáveis.
Finalmente sou adulta, me sinto adulta por contraste. Se eles são infantis eu não sou.
Ah! mundo de espelhos invertidos, diria Foucault!

julho 03, 2010

Um Passo em Frente Dois Passos Atrás

"Um Passo em Frente Dois Passos Atrás" foi escrito por Vladimir Ilitch Lenine em 1904.
É minha vida.
Há um capítulo neste texto, chamado: "Pequenas Contrariedades Não Devem Prejudicar um Grande Prazer". Ham. O que?
"(...) O Que não se deve fazer é que, em política, não se deve ser rectilíneo, inoportunamente áspero e inoportunamente intransigente,(...)".
"(...) "um dirigente do proletariado não tem o direito de ceder às suas inclinações combativas quando estas são contrárias aos cálculos políticos", (...)".
Uhhh!!!! pense sobre isso. Tenho que fazer planos, projetos pessoais,,, to estudando Lenin (estratégia)."É a minha vez de falar. "...
Meus lindos: chega de trair minha via como diz Maria Rita Kehl no seu livro "o tempo e o cão"
to em processo de construção deste texto!!!

junho 24, 2010

Camelo fêmea revoltado

Dizem que o camelo morde, dizem que ele fede, ele provavelmente empaca. Mas um camelo revoltado vc já viu? Nietzsche com certeza não viu mas previu.

"Vou dizer-vos as três metamorfoses do espírito: como o espírito se muda em camelo, e o camelo em leão, e o leão, finalmente, em criança.
Há muitas coisas que parecem pesadas ao espírito, ao espírito robusto e paciente, e todo imbuído de respeito; a sua força reclama fardos pesados, os mais pesados que existam no mundo.
'O que é que há de mais pesado para transportar?' — pergunta o espírito transformado em besta de carga, e ajoelha-se como o camelo que pede que o carreguem bem.
'Qual é a tarefa mais pesada, ó heróis' — pergunta o espírito transformado em besta de carga, a fim de a assumir, a fim de gozar com a minha força?"
(...)
"Mas o espírito transformado em besta de carga toma sobre si todos estes pesados fardos; semelhante ao camelo carregado que se apressa a ganhar o deserto, assim ele se apressa a ganhar o seu deserto."

Nietzsche "Assim falou Zaratustra".

junho 10, 2010

camelo desidratado

Meu princípio básico sempre foi crer que viria um dia, mas eu nem imaginei o que aconteceria neste dia (que bom que não perdi tempo com isso). Continuo com a doença do otimismo, é crônica agora e tem me cegado, e tem me tornado um camelo desidratado com dor nos quartos e nas salas.
Se eu tivesse o pessimismo teórico talvez tivesse estudado algo assim como fungos ou bactérias, ou o manuscrito de algum filósofo obscuro com entusiasmo, daria menos horas aula, teria menos livros na estante que não se envergariam com o tempo, me dando a despesa de ter que comprar novas.
Se eu fosse uma especialista eu seria feliz, pois, teria todos meus neurônios alinhados. E saberia qual pesquisa fazer no próximo semestre, que livro ler amanhã. Viveria na friagem do laboratório ou na sombra de um árvore não precisaria de filtro solar nem de óculos. Talvez não esquecesse de pintar os cabelos e teria mais amigos...otimismo prático é “fé na vida” ou no homem?.

maio 28, 2010

o tipo de aparição em que acredito

As lembranças que tenho do meu avô são afins a algumas cenas de filmes de Fellini. A mais linda se passa em Vale Encantado, no Município de Vila Velha- ES, quando este era realmente encantado.
Meu avô me levou em seu FNM ao lindo areal, extenso. Na minha lembrança o lugar é uma borda entre o areal e o inicio de um loteamento muito desabitado. As casas salpicadas, muito distantes entre si. Uma visão: numa rua inusitada no meio do areal, sem uma construção sequer, mais inusitada ainda, surge uma trupe de circo.
Um circo muito mambembe, um palhaço maltrapilho, um homem de perna de pau, mais uma ou duas pessoas vestidas com roupas de circo, acompanhadas por um caminhão muito antigo, um homem com megafone anunciava a redundante frase “hoje tem marmelada, tem sim senhor. hoje tem goiabada, tem sim senhor. E o palhaço o que é? É ladrão de mulher!!!!”.
Um filme de Fellini se aproxima e figurativiza o meu encantamento, meu deslumbramento, de menina de 7 ou 8 anos com aquela visão. O encontro daquela trupe com a imagem daquele areal branco neve, a areia que o vento levantava em grãos muito finos, superpondo a paisagem azul e rosa desse pontilhismo branco.O mesmo encantamento que causa uma cena de Julieta dos Espíritos. A cena da chegada da sua vizinha e convidados à praia. O comentário de Rafaello enuncia: “Isso sim que é uma aparição. É o tipo de aparição em que acredito ...”

Há uma música, que Cássia Eller canta, que me reevoca esse dia em Vale Encantado, a música “Maluca”:
“(...) Foi minha irmã quem me chamou pra ver. Era um caminhão, era um caminhão Carregado de botão de rosas. Eu fiquei maluca. Por flor tenho loucura, eu fiquei maluca. Saí . Quando voltei molhada Com mais de dúzias de botão (...)”.

Meu avô me proporcionou isso... as melhores lembranças que tenho da minha infância.

fevereiro 18, 2010

A minha Lília Brick

porque eu te olhava e você era o meu cinema, a minha Scarlet O'Hara, a minha Excalibur, a minha Salambô, a minha Nastassia Filípovna, a minha Brigite Bardot, o meu Tadzio, a minha Anne, a minha lou Salomé, a minha Lorraine, a minha Ceci, a minha Odete de Crécy, a minha Capitu, a minha Cabocla, a minha Pagu, a minha Barbarella, a minha Honey Moon, o meu amuleto de Ogum, a minha Honey Baby, a minha Rosemary, a minha Marlin Monroe, o meu Rodolfo Valentino, a minha Emanuelle, o meu Bambi, a minha Lília Brick, a minha Poliana, a minha Gilda, a minha Julieta, e eu dizia a você do meu amor e você ria, suspirava e ria. (Arnaldo Antunes,Psia)

fevereiro 07, 2010

A ex-punk e o pagodeiro

Ele a levou pra passear de moto e ela gostava de velocidade. Ele disse que gostava de mulheres mais velhas. Ela tinha a idade adequada. Ele disse que ela tinha o peso ideal, ela discordou. Por via das dúvidas apertou na dieta. Ela tem quatro gatos e avisou desde o primeiro dia. Ele entendeu que ela tinha quatro namorados e achou que ela era doida. Ela gosta de usar preto e é toda básica (exceto algumas florzinhas e acessórios), ele usa cordão de ouro (daqueles pesados) e muito perfume. Contudo ela gostou do cheiro dele. Ele acha horrível fumar maconha mas já chegou muito bêbado na casa dela. Ele ouve sertanejo, ouve duplas das quais ela nunca ouviu falar. Ela ouve bandas que ele vai detestar. Ela lê coisas que ele nem desconfia, ele faz estantes. Ela achava que iria ao samba com ele, porém tem sambado sozinha. Ele acha a comida dela sem sal. Ele foi vegetariano, agora come carne enquanto ela tenta ser vegetariana. Ele marca e não vem. Ela marca e sai de casa. Ele se declara apaixonado e ela vai a analista. Mais desencontros do que encontros. O telefone dele paraguaio-chinês tem dois chips, porém nunca funciona direito. Ela diz que não tem preconceitos, ele tem alguns com certeza. Para ele existem verdades, para ela é tudo interpretação. Ela chora em filmes tristes, ele chora em filmes tristes, mas nunca assistiram um filme juntos. Ele vive cantarolando pagodes tão baixinho que ela não consegue ouvir. Ele gosta de ir a casa dela a tarde, ela preferia que ele viesse no fim de semana. Ele diz que a vida dele é mais complicada do que a dela. É verdade que ela tem muitas tarefas, todas claras e muito bem agendadas. É verdade também que até as pessoas mais simples tem medo de afeto, deste que ela aprendeu com os seus quatro gatos. Ele quer compromisso, mas não conta nada da vida dele. Ela é um livro aberto sem capa. A ex-punk dedicou uma música ao pagodeiro*. Ele vai acabar dançando.

*“querendo te encontrar”. João Bosco e Vinicius, do DVD pirata que ele esqueceu na casa dela.

janeiro 22, 2010

Volúvel e fácil


Franz Kafka tem um conto que foi traduzido em Portugal por "A Recusa", traduziria como "A Rejeição". é assim, um rapaz mexe com uma garota: “Ei quer vir dar uma volta comigo?” e ela responde algo como: vc está muito distante do meu sonho. O rapaz retruca: pensando bem vc também não é meu tipo de mulher. Chegam a conclusão:
" Sim, ambos temos razão, e para que de tal não nos apercebamos de modo irrevogável, será melhor, não achas, que cada um vá sozinho para sua casa. "
Quando se faz ao contrário e se aceita o convite de alguém que vc não tinha reparado a noite inteira, por pura distração, diga-se de passagem. Mas que é uma pessoa de outro mundo, que fala outra língua e nenhuma pesquisa no google encontra, enfim,um cara do tempo da manufatura. No fim das contas, teria sido melhor ter ido pra casa por caminhos diferentes. Pois não se passa por esse tipo de experiência incólume não?.


"antes mais uma cerveja do que matar sua fome ,,, como diria o cantor de bolero" Fagner & Zeca Baleiro

janeiro 07, 2010

do diário dos quarenta

Não posso ouvir música que danço, nem ouvir música triste ou ver filme triste que choro. Não posso ver beleza que me arrepio. Mas até agora não me ajustei aos quarenta.