setembro 22, 2015

a que horas ela volta???



Quem já entrou pelas portas dos fundos da casa dos patrões de seu avó subalterno depois chega a ter doutorado passa, observa, sente e atua recorrentemente em vários daqueles papéis. Não há identidade com apenas uma posição naquele jogo de poder. O filme é um espelho, dói para quem nasceu na década de 1960, mas as marcas já são cicatrizes. O filme, certamente, não é revolucionário quanto à estética filmica, talvez não cause nenhuma grande comoção em nenhum campo seja do cinema, seja das relações entre patrão e empregado doméstico, talvez faça um percurso curto de mal estar, identificação de papéis e seja logo esquecido. O fato é que quando já se nasce sabendo, o dificil é desaprender. Jéssica -- numa dessas análises foi chamada de sem educação -- "Ela não é desenvolta, é petulante" ** -- sua postura de "segura de si [vai á] falta de educação" para o crítico "é que ...parece fascinante, mesmo porque existe aí certa luta contra a truculência dos senhores da terra". -- .
Há outro modo de ser, quando não se passou recorrentemente por aquels rituais cotidianos de servidão e domínio?
Eu queria ser Jessica ontem, quendo comecei o curso de arquitetura, gostaria de ter ignorado completamente o lugar de onde eu vim em termos dos comportamentos rituais. Eu gostaria de ter tido mais "falta de educação". Eu tive crises, dúvidas o tempo inteiro do curso sobre o seu papel transformador, recebi conselhos dos melhores para seguir em frente, de Lelé, por exemplo.
Mas a desconfiança não se desfez após trinta anos, muito mais do que 30 anos de profissão: "a divisão capitalista do trabalho, a sua separação entre o trabalho manual e o intelectual, entre o trabalho de execução e o de decisão, entre o de produção e o de gestão, é tanto uma técnica de dominação quanto uma técnica de produção" dizem marxistas (Buzzar, et alli). O curso de arquitetura te coloca em contato com belezas todas expropriadas e improfanáveis. Os aquitetos visitados: Niemeyer e Artigas, estão entre aqueles aqueles que ousaram sonhar com transformaçõe mediante a arquitetura, inclusive na ação política.
Anos depois, seu papel de ideóloga se dissipou em cinismo, tergiversação. A arquitetura "despolitizou-se" -- tem estado subalterna ela própria, a serviço da especulação, do patrminialistmo, da gentrificação, da segregação espacial da coalizão Estado-Mercado. Hj penso seriamente em deixar de dar aulas, pois, a arquitetura esgotou suas possiblidades no meu ponto de vista, na minha área de atuação.
link inácio