fevereiro 19, 2015

Sobre os 50 tons de Grey

Sobre os 50 tons:
Assisti 50 tons e li os 3 livros. Como em “9 semanas e meia de amor” -- filme considerado melhor do que  50 tons -- mostra uma relação doentia. Em "9 semanas e meia" a personagem feminina desiste da relação, pois, não dá conta: "não era amor era cilada". Ela desaparece na multidão, ao que parece John jamais consegue reencontrar Elizabeth (a personagem feminina do casal).
Sr Grey tbm é um homem rico, poderoso, perverso e pervertido como John, o protagonista de “9 semanas e meia”. Como o galã de “uma linda mulher”, Sr Grey é uma espécie de yuppie que faz fusões, aquisições, desmonta e quebra empresas e empregos. Esses personagens são todos homens poderosos, bonitos, quase irresistíveis. 
Sr. Grey é um CEO, executivos cuja remuneração ultrapassa a soma do lucro das empresas, do seu crescimento econômico mais a remuneração média de todos os trabalhadores (Consulta a Bresser Pereira). Os CEOs “ganham quatrocentas vezes mais que o trabalhador médio"  (de acordo com Bresser Pereira) e cada vez mais, mais. São capitalistas de risco para seu entorno, Sr Grey faz manobras de risco calculado e vive numa bolha de segurança máxima, controlando tudo como um maníaco. Sr Grey diz que conhece as pessoas, sabe tirar o melhor delas, se não correspondem impiedosamente manda embora.
Sr Grey não tem nem um pinguinho de empatia por quem sofre, embora seja de “carne e osso”, sofra pelo seu passado de menino maltratado pela mãe e seus cafetões, parecido com a história do galã de “Uma linda mulher". Sr. Grey venceu com vinte e poucos anos, quando Anastacia o entrevista ele tem 28 anos, ela tem 20--  foi o que deu a entender.
Sr Grey incorpora traços de personalidade característicos, socialmente constituídos, conforme a ideologia do mercado neoliberal, é agressivo, tem autoestima elevada (com algumas controvérisias), tem poder de persuasão (dinheiro, capangas), tem carisma e postura de líder. Além disso, é charmoso, bem vestido e cheiroso. Sr Grey nunca sorri mas faz Anastácia tremer. 
Sr. Grey tem os fins de semana para relaxar, coisa que um professor pouco tem. Nos fins de semana ele faz sua vilegiadura urbana, num prédio inteiro de sua propriedade, no quarto vermelho da dor. Ele é adepto do BDSM. No quarto vermellho da dor, em vez de descansar das maldades diárias, ele se torna pior ainda. É Sr. Grey tem desejos não convencionais. 
BDSM sigla "Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo", diz-se que é um grupo de padrões de comportamento sexual humano. De acordo com o analista do Sr. Grey é um tipo de comportamento “seguro, são e consensual”. Não vou questionar, o homem é um especialista e não estou aqui para ser moralista. Mas Sr. Grey exagera, pois, os contratos com suas submissas – não se referem ou se restringem a sexo, tratam de "controlar quase todos os aspectos da vida" das mulheres contratadas (diz Laurie Penny). Anastácia não é boba, está toda derretida, totalmente na dele, mas capta isso muito bem. Parece que nem tudo está perdido -- ilusão de livro 1/ parte 1.
No quarto vermelho da dor Sr Grey exercita o sadismo – segundo sua própria definição (Cf livro 2) – sob contrato com suas submissas. Recordei que até os Médicis descansavam em suas vilas palladianas de sua maldade diária. Ser mau cansava parece no Século XIV, mas é certo que não cansa mais. Ser malvado para Sr Grey é uma necessidade, diz sua mestra dominatriz – Ele vive numa espécie de playground: prédios friamente decorados, entre obras de arte, pilotando jatinhos, iates, helicópteros, carros que flutuam no asfalto, bebendo e comendo do bom e do melhor. Ele tem personais de toda ordem, serviçais, sobretudo, ostenta aquela sensação contínua de vitória, de estar acima da paisagem.

Concordo com definições de jornalistas mulheres americanas sobre o Sr. Grey “ele é um jerk”, de blogueiras: "um bloodsucker"; “é apenas um sociopata e um misógino de ‘mão cheia’, há muitas pessoas que podem achá-lo que sexy, mas eu não" (Laurie Penny). Ele é um abusador. Mas Anastácia acha ele sexy, polido, embora um pouco intimidador. Ela o coloca num pedestal, sequer entende porque se interessa por ela, um “doce de menina mal vestida”. Deve ser por ser “fodido da cabeça” ela pensa. Ela admira como ele faz e conduz seus negócios. Ela não sonhou em ser rica, fica constrangida com a riqueza dele, mas acha do fundo do coração que ele merece tudo aquilo que possui. Anastácia não é inocente. Ela não questiona o governo que ajudou o sistema monetário a concentrar em 1% da população dos EUA 25% da renda do país, embora faça parte dos 99% americanos, dos excluídos do festim diabólico financeiro. Anastácia primeiro diz não para tudo aquilo de bom e ruim que Sr. Grey oferece. Isso serve para dar algum suspense, alguma dignidade, algum amor próprio ao personagem, mas depois ela vai dizer “yes, yes, yes”.

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